quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Ninguém merece!

O diálogo abaixo aconteceu antes de Ronaldo ir para o Corinthians. Antes de Kaká trocar o Milan pelo Real Madrid e antes do Dunga classificar o Brasil para a Copa do Mundo de 2010. O resto, bem, o resto até que é bem atual...

_Mãe, porque o Ronaldinho não joga mais futebol?

_Quem, o gaúcho?

_Não, mãe! O gorducho.

_Ele sofreu uma grave lesão no joelho, passou por cirurgia que leva perto de um ano para recuperar e poder voltar a chutar uma bola. Além do mais, ele sofre com problemas físicos há anos. Mas logo, logo deve estar em campo de novo. Você vai ver.

_Mas na escola falaram que ele só pensa em balada, mulher, bebida e cigarro. É verdade?

_Bom, filho. Eu leio nos jornais que ele gosta de sair à noite, mas, se a gente pensar bem, ele é um trabalhador como outro qualquer e tem o direito de se divertir às vezes, não é?

_Mas ele não é atleta?

_É, mas...

_E se ele faz tudo isso, como vai agüentar correr no treino e no jogo?

_É, mas...

_Beber e fumar não faz mal à saúde? A senhora sempre diz isso!

_Bom, é que...

_Será que ele também como muito chocolate? A tia Lúcia falou que não come doce porque engorda. E o Ronaldo está bem gordinho.

_Olha meu filho, eu acho que a gente tem que ser compreensivo com as pessoas. Ele já foi eleito três vezes o melhor do mundo e ganhou uma Copa para o Brasil. Imagina como deve ser difícil para uma pessoa acostumada a uma vida ativa não poder correr. Deixa ele comer as porcarias dele. Depois, no treino, ele emagrece.

_Mas me falaram que ele fazia tudo isso bem antes, quando jogava no Barcelona e foi eleito o melhor do mundo.

_Sei lá, acho que ele sempre gostou de diversão, você também não gosta de passar o dia brincando?

_É! Quando eu crescer, quero ser igualzinho ao Ronaldo.

_Para ser o melhor jogador do mundo, meu filho?

_Não. Para poder fazer o que eu quiser e não levar bronca. Se eu fosse o Ronaldo, podia faltar da escola amanhã cedo e ficar dormindo até mais tarde. Na hora do almoço ia comer pipoca e ao invés de ir na escolinha de futebol ia ficar jogando videogame.

_Que que é isso, rapazinho? De onde o senhor tirou essas idéias?

_Mas, mãe, o Fenômeno...

_Que Fenômeno o que?

_Mas...

_Nem mas, nem menos. E chega desse negócio de Ronaldo. Você é muito novinho pra achar que a vida é só baderna.

_Se divertir é errado?

_Chega desse assunto. Não quero mais ouvir falar em Ronaldo, em Fenômeno ou seja lá o que for que o estão chamado agora!

_Mas eu quero ser como ele quando eu crescer.

_Ah é? Mas até lá você vai tratar de estudar e ser um bom menino. Aliás, acho que você deveria querer ser outro jogador. Um que seja um bom exemplo... Vamos ver... que tal o Dunga? Isso, o Dunga! Ele sempre gostou muito de treinar e também foi campeão do mundo. Inclusive, era o capitão e levantou a taça em 1994.

_Mas, mãe, o pai me falou que o Dunga sempre foi cabeça de bagre como jogador e cabeça dura como treinador?

_Seu pai fala demais. E diz o que não deve perto de você! O Dunga compensava a falta de habilidade com muita dedicação e aplicação tática em campo.

_E o que é aplicação tática, mãe?

_É fazer em campo exatamente aquilo que o técnico mandar para o bem e da equipe como um todo.

_Mas o meu pai xingou o Dunga de burro no outro jogo da Seleção. Se o jogador fizer o que um burro manda, ele não será burro também?

_Olha, filho, vamos deixar o Dunga pra lá, junto com o Ronaldo. Vamos ver, me diz aí outros jogadores que você gosta.

_Eu gostava do Kaká, mas ele não manda muito bem.

_Só essa que me faltava. O Kaká é uma graça de rapaz e também foi eleito o melhor do mundo, como o Ronaldo. Além do mais, ele é rico, famoso, joga no Milan, na Seleção Brasileira. É casado com uma bela esposa e agora tem um filhinho. Que mais você quer?

_Eu sei que ele joga bem, mas eu não quero ser igual a ele. Não.

_E eu posso saber por que?

_Porque meu pai disse que ele também é uma besta.

_O que? Seu pai também falou mal do Kaká?

É. Ele disse que se ele tivessa o dinheiro e a fama do Kaká, ao invés de se amarrar, ia comprar uma Ferrari igual a do Cristiano Ronaldo pra pegar a mulherada. Também falou que onde já se viu dar uma parte do salário para uma igreja que os donos foram presos porque esconderam dinheiro na Bíblia.

_Eu mato o seu pai! Mas você não pode pensar só em dinheiro, filho. Imagine como seria legal jogar bem como ele, ir para o Milan e ser campeão do mundo com a Seleção Brasileira.

-Isso seria bem legal. Mas tem outra coisa que ele fez que eu não faria.

_O que o seu pai botou na sua cabeça agora?

_Não mãe, ele não me falou mais nada do Kaká. É que se me oferecessem um monte de dinheiro pra jogar no time do Robinho, eu ia correndo.

_Bem que a sua avó que diz que você me saiu melhor que a encomenda.

_Hã?

Nada, deixa pra lá. Bom, se não pode ser o Ronaldo, nem o Dunga ou o Kaká, que jogador você gostaria de ser então?

_Eu tenho um amigo novo na escola que me falou de um que foi o maior craque do universo. Ele era tão bom que ninguém ganhava do time que ele jogava, tanto que o mundo todo adorava ele. Driblava todo mundo e chagava na cara do gol pra marcar. Ele também ganhou a Copa do Mundo, mãe. Mas pena que ele não joga mais. Acho que eu gostaria de ser como ele.

_Já sei filho, o nome desse jogador é Pelé, não é?

_Não, o Esteban, o meu amigo argentino, disse ele se chama Maradona.

Chega! Acabou o futebol. Vou te colocar pra jogar vôlei!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

TIMÃO SÓ TEM UM

_Passa a bola, Alfinete!!!!

A frase, sempre arrematada com um sonoro palavrão, estourava nos ouvidos como mais um adversário a ser driblado. E era exatamente isso que fazia. Gingava para um lado, para o outro. Fintava quem aparecesse pela frente, fosse grito, fosse gente, até chegar a linha de fundo e enfiar o pé na bola. Os cruzamentos, sempre perfeitos - claro! - nem sempre achavam um atacante digno e tanto açúcar para concluir o gol feito. Paciência. Não era culpa sua ser o único com potencial de craque naquele timeco de várzea. Por isso tanta implicância. Tanto xingo. Inveja pura!

Lateral-esquerdo do (des)Unidos do Parque Itamambópolis, time mais conhecido pelo pouco digno pseudônimo de Tranqueirão da rua do fundo, inspirava respeito nos adversários dos bairros vizinhos, na periferia paulistana quase fora dos limites da cidade. A coisa funcionava mais ou menos da seguinte forma. Se não ganhasse na bola, não perdia na porrada.

Alfinete entrava em campo todo final de semana crente de ostentar a mesma habilidade do ídolo homônimo: Carlos Alberto Dario de Oliveira, o Alfinete do Corinthians da década de 80. Ganhou o apelido do pai, homem de poucas palavras e que só reparou de verdade no filho após ver seu primeiro jogo de futebol.

O que o Alfinete do Tranqueirão da rua do fundo nem desconfiava é que o apelido veio de outro Alfinete, o lateral-esquerdo que defendeu Vasco e Olaria nas décadas de 1960 e 1970, ano em que foi campeão nacional pelo cruzmaltino. Ele jamais associou a diferença de jogar pela esquerda, enquanto o corintiano subia e descia, se revezando entre defesa e ataque pelo lado direito do campo.

Mentira afirmar que Alfinete herdou do pai a paixão pelo futebol. O que ser tornaria uma compulsão nasceu da necessidade de entrar no universo paterno. De ser notado. Ser tocado com um abraço após um jogo, qualquer migalha de carinho. Com os anos, o estrago estava feito. O futebol entrou em suas veias como um veneno, uma droga. Sem ele, sofria crises fortíssimas de abstinência. Não bastava jogar na várzea. Necessitava ver futebol. Fosse na TV, fosse ao vivo. De preferência ao vivo. Sempre o Timão.

Tão visceral quanto a relação com o Corinthians, crescia a paixão por Jéssica.

_Conheci a mina voltando de um jogo do Timão no Pacaembu. Maior love no busão – garganteava entre os amigos.

A medida que a coisa esquentava, Alfinete viu sua vida se transformar em um triângulo amoroso, com Jéssica no papel de patroa e o Corinthians como a amante. O futebolzinho no Tranqueirão até ficou meio de lado nos finais de semana, mas o eterno candidato a lateral parecia garrincha ao driblar a namorada para se esbaldar no meio da Fiel.

No início, ela fazia vista grossa, mas a situação ficou insustentável quando o dia do aniversário de 6 meses de namoro caiu justo na data de um Palmeiras x Corinthians, e ele trocou o encontro no romântico barzinho Le Chic pelo Palestra Itália

_Não dava pra deixar os irmão sozinho na casa da porcada – justificou-se, sem sucesso, óbvio.

No dia seguinte, ouviu um ou ele ou eu mais doído que um chute a queima roupa do Roberto Carlos - aquele mesmo da arrumada do meião na Copa da Alemanha, quando Henry fez o gol e mandou a gente pra casa – nos países baixos.

Pediu perdão. Implorou compreensão. Nada. Jéssica fincou pé e exigiu uma posição. Ele começou a suar frio, esfregar as mãos. Perdido como se levasse um lançamento nas costas e não tivesse pernas para alcançar o ponta. De repente, um estalo. Lembrou de Alfinete, seu ídolo no Timão, o jogador que, em seu imaginário, lhe deixara um legado de jogadas sempre brilhantes, sinônimo de eficiência na combinação ataque/defesa. A solução surgia límpida e clara. Abraçou a amada com tanta força que parecia não vê-la há anos e, antes que quebrasse uma costela da moça, sentenciou:

_Nós vamos ficar juntos. A partir de agora, você vai comigo aos jogos do Corinthians.

Domingão, logo após o almoço, o som da campainha arranhava o ar insistentemente. Quando abriu a aporta, Jéssica deu de cara com uma camisa branco e preta, listada, baby look, com o distintivo do Corinthians. Gostou do agrado, se animou e foi, feliz da vida, para o seu primeiro jogo de futebol.

A alegria, porém, durou menos que os 90 minutos do Corinthians x Mirassol, pelo Campeonato Paulista. Enquanto subiam os degraus da geral, Alfinete por pouco não rolou para baixo, atracado a um sujeito com cara de tarado que teria tentado, por assim dizer, invadir a pequena área enquanto Jéssica passava. Quando ela parou de chorar, pediu para ir ao banheiro dois minutos após o juiz apitar o início da partida. O namorado tentou explicar que tudo bem, ele a esperaria bem ali, mas quase rolou de novo da arquibancada, desta fez elgalfinhado com a amada caso não agisse como um cavalheiro. Vinte minutos depois, ida e volta ao sanitário, escorando sua princesa para não ser de novo bolinada, o jogo ainda estava 0 a 0, mas a pressão corintiana resultaria em gol a qualquer momento.

Tragédia anunciada, Alfinete não conseguiu acompanhar a partida. Nem ver os dois gols da sua equipe do coração. A cada tentativa de se concentrar na ação no gramado, ganhava um beijinho, depois um beijão. Teve que responder 18 vezes – contadas – sobre a regra do impedimento e ouviu comentários interessantíssimos sobre a combinação de cores do uniforme do Mirassol, com cores mais vivas, segundo Jéssica. Comprou água, refrigerante, amendoin, tudo que passou perto para tentar calar a boca da, aquela altura do campeonato, mocreia ao seu lado. A gota d’água caiu quando ela, sozinha, pulou para comemorar a cobrança de um escanteio. Ele chutou o balde fora do estádio.

_Cala a boca, sua #*@*. Vai pra #%@*. Putz mulher chata!

Assustada. Revoltada. Decepcionada, Jéssica reagiu instintivamente. Tascou uma bolsada no troglodita até então seu chuchuco, virou as costas e saiu pisando duro. Ganhou a rua sentindo-se a última das criaturas após tantas mãos roçando seu corpo. Jurou jamais pronunciar as palavras Alfinete, Corinthians e futebol. E assim foi. Acabou cansando, pouco mais de um ano depois, com um evangélico que preferia passar os domingos no culto.

O fatídico domingo não acabou mesmo bem para Alfinete. O Mirassol empatou o jogo nos minutos finais do segundo tempo. E esses gols ele viu.

Voltou para casa sozinho e arrasado. Bem, nem tão só. Nem tão triste. Espremido no ônibus, com a galera da Fiel, lembrou que a tabela do Paulistão cravava Ituano x Corinthians na quarta-feira e a caravana já estava armada.

Olhou pela janela e enquanto via o Pacaembu cada vez menor, lembrou de uma das máximas de todo maloqueiro e sofredor.

Mulher tem um monte. O Corinthians, esse só tem um!

domingo, 29 de novembro de 2009

O que é Fishpod? É Tocatamento!
E o que é Tocatamento? É Fishpod!
Tocatamento e Fishpod são palavras saídas da cabeça de um cara muito legal, a quem tenho a honra de conhecer desde o nascimento. Ele as cunhou aos 3, 4 ou 5 anos. Não consigo precisar o tempo, esse nunca foi um dos meus fortes. Importa é que Fishpod e Tocamento são palavras que podem representar o que quisermos. São fruto da imaginação latente e podem se transformar em qualquer coisa. E se tornar coisa qualquer.
Por isso esse espaço metido a besta tem esse nome. Criar. Modelar. Transformar. Materializar ideias em palavras.